28.9.10

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Certa vez, caminhando sobre os rodapés de uma página qualquer, li uma certa mulher que, na prateleira, me chamou a atenção. Instigava-me o seu título, suas letras cuidadosamente aplicadas as quais eu precisava desvendar em palavras e frases. Tinha orelhas enfeitadas com vírgulas - que recebera no natal de algum parênteses - e números impressos em rugas nos cantos dos olhos. Pontos finais lhe cobriam o rosto e o corpo, como pintas; hífens e travessões, como cílios. Usava uma linha envolvendo o dedo, feito aliança, mas, fitando-a, vi cair de seus olhos reticências que transpareceram certo âmago em tirá-la e colocar no pescoço (alimentando ou cessando a loucura do enredo). "Ninguém determina o que acontece quando acaba a introdução. Sua fisionomia perfeita, morfologia desfeita, interferem na noite e na fonte, nada mais." - e eu só queria ter aberto aquele conto antes para tirar uma caneta e alertá-la do futuro desafio. Desenvolvimento, enredo; este traçava-se nas manhãs em que, pendurada em aspas, ela indireitava o topete das interrogações e as transformava em exclamações. No entanto, naquela tarde, naquele capítulo, havia despencado em itálico em um dos "!" e o rompido, formando um ponto-e-vírgula: nunca antes deparado e que nem dois pontos puderam disfarçar. O clímax me confundia e eu já não sabia se observava a escritora ou a protagonista, cada vez mais consumida por uma aparente fobia literária do inóspito, que a impedia de continuar. Seus registros (sempre passagens, poemas curtos, frases de efeito) agora enfrentavam o meio-termo resultante à queda, aquela tal pontuação e tudo aquilo que representa: o ad infinitum entre o que continua e o que termina. o maldito... não soube lidar. E então parou (já que parágrafo não) frente ao ponto sob vírgula, atrás de letras maiúsculas de decepção e sob seu complexo em negrito. Colocou o chapéu circunflexo sobre o cabelo til e partiu. Afogada em nanquim, se despediu com uma assinatura na contra-capa e uma (sua) história sem fim.

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